sexta-feira, março 31, 2006
Renascimento
Há algo que me impede de agir
Mas há uma força maior
Que se move em vez de mim.
Há um não-sei-quê que me faz parar!
Mas há sempre um outro que me torna em mim!
Porque não quero parar de ser eu.
Nem deixar de agir e perder a luta contra o que sou.
Por entre forças que se debatem cá dentro e comigo,
Há uma maior que ganha, mesmo na derrota,
Há sempre algo que brota
E me faz renascer,
Mesmo que renascer seja enfrentar a derrota.
Mesmo que não renasça para o que quero ser,
Renascer é já não ficar parado,
Levantar-me e recomeçar,
Recomeçar e sentir que a força que me comanda
Não se deixou abater, nem desapareceu
E novamente me invade
Para recuperar quem sou
E o que é meu.
Pediste...
E me ilumina a cada instante,
Torna-me melhor por te conhecer,
Menina de olhar deslumbrante
Que corres sem saber para onde vais
Que me procuras a cada instante
E entre sorrisos banais,
Nos unes num diamante.
Tu nos separas e reencontras
E nos juntas a cada momento.
Deixas-me invadir o teu espaço,
Frio do mar com calor do vento,
Beijo transformado em abraço.
Somos Um
Distantes, incompletos
Separados, sem sentido nenhum
Juntos, finalmente libertos
Das correntes que nos prendem à distância
Das grades que nos desunem e afastam
Mas no final somos um novamente
Porque novamente voltamos a amar
Porque nos unimos na nossa corrente
Que ninguém consegue quebrar.
Descompromisso
O prazer é o de não fazer!
Recostado na doce melancolia
Na calma apaziguada do lazer...
E não ter preocupações
E não frustrar grandes e ilusórias ambições!
Há na minha mente projectos e missões
Mas nada faço... para não fazer!
É aí que reside o verdadeiro prazer
No desprendimento de faltar ao combinado!
Na força de romper com o que está agendado!
E no final, deitado
Fingindo não perceber...
Esquecer que o mundo é mundo
E nada fazer!
Sonho
Só assim aguento
O peso medonho
Do medo de conquistar
E de não segurar o que ganhei.
O temor de vencer
Sem saber!
O descalabro de ignorar que sou rei!
E que tenho em minhas mãos o poder
De decidir para onde vou!
Persigo o sonho que sonhei
Mas persigo-o já disperto...
Posso persegui-lo porque acordei.
Nós
E não vez porque não queres
E o nosso destino certo
É esperar que tu esperes
E que sendo tu própria
Em mim te revejas
E nos tornes um só... superior
Amando quem beijas,
Sentindo com amor.
Juntamo-nos um ao outro
E num só somos dois
Deslizamos à chuva e ao vento
Sentimos unidos
Somos brisa do sentimento
Tão juntos e tão perdidos.
Natal de Trapos
Tenho frio
O meu bolo-rei
Há muito que se partiu...
Sem pressas, para durar mais.
E meus pais?
Meu pai prometeu prendas
Que não podia trazer,
Minha mãe chorou lágrimas
Que eu não podia ver.
E sonhando com um comboio(de corda) movido a vapor
Recebi um casaco grosso
Bordado em ponto de luz
E embrulhado em amor.
E o frio que tive desapareceu
A malha do casaco me aqueceu
E que sorriso dei a quem mo deu!
O comboio que pare noutra estação,
A estação de quem ama
Só quando lho dão.
Não posso dar prendas, mas também não queri
aNão peço mais nada, nem preciso
Porque entre o que tenho e o que pedia
Vai o mundo num sorriso.
Poema da Derrota
De quem perdeu... não ganhou,
De quem procurou e nunca achou.
Porque correu e nunca chegou
Porque saltou e não subiu,
Porque lhe pediram e não deu.
Tentando ouvir, não escutou
Suplicando, não recebeu,
Começando, já acabou.
Tentou lembrar-se e esqueceu
Olhou e não viu
Em vez de chegar perto se afastou,
Ao levantar-se caíu,
Sorrindo, chorou.
Avó
Tens no cabelo a cor da sabedoria
E dentro a força que acalma mas perdura.
E a claridade e lucidez no olhar,
E a força transmitida em cada pensamento
Tornam-te a trave mestra do teu lar,
A senhora de cada momento.
Semeadora sem descanso,
Marcada pelo labor de cultivar,
Irmã do trabalho e da terra,
Parceira de estações e plantas,
Artista na arte de criar.
E no final a bondade de dar
Sem nunca esperar receber
E sorrir para afastar a tristeza
Caminhando sem nada temer
Caminhando com a tua certeza,
A certeza de quem sabe viver.
Não
É uma arte...
Saber evitar a tentação,
Colocar-se de parte...
E passar sem ser notado,
De mãos nos bolsos, despercebido,
Sem se dar a entender
Ligeiro, disfarçado
Sentindo, contudo, o suposto perfume do prazer
Que o não é... Por ser ignorado
Não o chega a ser.
E abdicar da vida em prole do sonho
E não ceder perante a pressão
Sentido esse peso medonho
Mas o orgulho de dizer não.
Pedaço de ti
Podia gritar até cair no chão
Mas não te poder tocar
Não poder sentir tua face nesta mão
Torna-me outro que não eu,
Tira-me tudo, pedaço de céu.
Porque amar sem me poder dar
Porque querer sem poder ser teu
É mais do que não lutar
É a derrota de quem te perdeu.
Sem ti
Quero ver-me, não consigo.
Procuro em ti o meu reflexo
E é o nada...
E o nada é maior que tudo
E o tudo passa a ser nada
Porque o tudo não tem sentido
E no nada não há mais nada.
O regresso
Renasci
Fui ao Inferno e voltei, sobrevivi!
Passei a dor da perda
(Perdi-me e encontrei-me)
Deixei de saber quem era
E tornei a encontrar-me
Hoje sei quem sou, porque sou diferente
Melhor a cada dia
Pior do que amanhã
Lutador, inconformado, insolente
Até posso no final não ganhar...
Mas tenho a vitória da entrega no meu peito
Porque lutei com tudo o que tinha
Porque deixei a pele e a alma na guerra
Porque perdi mas ganhei
Porque renasci...
Eu voltei!
Criança
É ter na alma o mundo
É nada temer
E viver no sonho profundo
E correr com alegria
Sentindo o vento a bater na face
Pulando com a magia
De ser indiferente a quem passe.
Porque ser criança é ter o Destino na mão.
Não se preocupar com o nada que os outros são.
Ser criança é viver com o coração.
E jogar à bola com a camisola suada
E rasgar os calções numa queda aparatosa
E sair com o joelho esfolado
Depois de uma rasteira criminosa.
Mas é chegar a casa e ao aconchego do lar
E saber que tudo o que é bom demora a passar.
À noite sonhar com princesas e dragões
Num mundo de mil cores que existem na mente.
Ser criança é viver porque é ser indiferente
E estar ausente apenas na presença de si mesmo
E com uma gargalhada iluminar
Com um grito dominar e vencer
Ser criança é ser.
Vitória
A sensação de conquistar o mundo,
A força de ascender a um nível superior,
De dominar a cada segundo
O seguir caminho e esquecer a dor.
A satisfação de ter sucesso...
De se conseuigr um feito!
De cometer uma loucura, um excesso!
Mas, no final, ser perfeito!
E prepara a glória que aí vem
Trabalhando para de novo lá chegar,
À vitória, esse vício que ninguém tem
Mas que vicia porque vicia ganhar.
E ser motivo de espanto e admiração,
E alcançar a fama por ser o melhor
Sentir o Destino na mão
Fortalecê-lo, tornando-o maior.
E no fim gritar ao mundo quem sou
De onde vim e porque nasci para vencer
De onde vim... e para onde vou!
O Herói
Porque o que assume que é herói
Gosta apenas de ser bem recordado.
Não lhe interessa mais nada.
E se não for lembrado,
Terá sempre a felicidade adiada.
Não, um herói não é isso.
O herói busca o infinito.
(Não é bom ser herói, na verdade)
Ser herói é sofrer no silêncio,
É perder a força e ganhá-la sem contar a ninguém.
É ser maior do que a vida e assustar a tristeza
É vencer tudo e ele próprio também.
É ganhar a guerra e preparar a próxima ganhando-a!
Ser herói não é fácil, mas se o fosse todos seriam heróis.
E o herói é único.
O verdadeiro herói só é reconhecido depois de o ser
Mas não precisa de reconhecimento, ele só exige a vitória.
O herói não se esquece,
Ascende a lenda, mito, marca da História
E num movimento permanente
Não pára, não hesita, não adormece.
Ele é muito mais do que ele próprio,
Transcende-se, endoidesse,
E, em permanente agitação,S
acode as águas turvas
Aquece um vulcão!
O herói consegue fazer tudo sem ser notado.
É precioso, superior, iluminado,
Mas, respeitando mesmo quem o não respeita,
Não gosta de se enaltecer...
É bom, é o melhor em silêncio,
E só quando a sua guerra terminar
Quando o pano descer
E a sua a peça acabar
Apluadir-se-á, asteando o seu vencer!
O Palhaço
O nariz é de tom avermelhado.
Roupas largas e exageradas
E aquele sorriso rasgado...
Consigo ouvir as gargalhadas!
Crianças pulando de felicidade
E adultos sorrindo recordando
O seu tempo naquela idade.
O espectáculo terminou.
As palmas fizeram-se ouvir.
Toda a gente aplaudiu e gostou.
O palhaço pode sair.
Lá fora é só mais um homem,
Que vive com tristeza o não ser,
Como uma gargalhada eternamente engasgada.
Confunde-se no seu viver
Com a personagem encarnada.
Desconhece-se.
E o seu maior temer
É o de não desprender
A cabeleira despenteada.
Mas ele é o palhaço
E debaixo das pinturas e do laço
Ele esquece a tristeza e o destino incerto
E quando o público se ouve ao longe mas já perto
Abandona a infelicidade e o cansaço.
Porque quando o espectáculo recomeça,
No momento em que é feita a chamada
O palhaço mascara-se e regressa
Para mais uma hora bem passada.
O Topo
E, no momento em que os abro, respiro fundo.
Fecho os olhos,
Imagino-me à beira e no topo do mundo.
Não caio mas não desço.
Fico ali apenas para lá estar.
Estou no topo e mereço,
Conquistei esse lugar.
Mas quando torno a abrir os olhos
E desço desse estado de altitude
Apercebo-me que não o conheço
E que estou sozinho na virtude.
Não por egoísmo ou maldade,
Mas porque fui por onde poucos foram;
E agora, que lá cheguei de verdade,
Penso numa palavra que defina a minha história.
Encontro-a, torno a abrir os braços
E, afundado em delirantes cansaços,
Venho à tona e grito - "Vitória!".
Liberdade
Essa ânsia do não reprimir
Essa calma que predura;
O verdadeiro sentir!
Objecto de lutas e vitórias
E de frustrações silenciadas.
Causa antecipada de glórias,
De guerras marcadas.
Espectáculo do não cumprir,
Do não respeitar quem se devia.
Correr nú entre a multidão
Em plena luz do dia.
E dizer que sou livre...
E que livre sou porque alguém não se curvou
Porque não obedeceu, não foi gentil.
Porque se revoltou!
E em protesto
Fez do mês quatro o mês de Abril.
quinta-feira, março 30, 2006
Loucura
Sorri com árvores e pássaros,
Sendo quem não é no momento.
Seu prazer
É o de ser sem ser
Por não ter que serPara (de facto) ser.
E vive sem convenções nem tratados,
Sem jornais nem política...
E seu mundo, inteiro aos bocados,
É feito sem crítica.
E ao seu ritmo delirante,
Numa loucura permanente,
Num devaneio estonteante,
Um dito de quem o não sente.
É feliz porque vive como quer,
Sem Ciências nem Matemática,
Sem Filosofia nem História.
É louco, e o seu saber
É feito de tudo o que guarda na memória.
E revolve os princípios do princípio
E sonha com carros a voar
É cabo, sargento e general
Vence na guerra do seu pensar.
As palavras sem sentido aparente
São rasgos de genialidade
De um génio que, mesmo demente,
Transmite lúcida generosidade.
E quando os ignorantes o chamam louco
Sorri... (eles são tristes e presos)
E se são sábios... sabem tão pouco!
Sou muito mais, sou magia!
Porque na impossibilidade de ser perfeito
Sou eu próprio, como Deus me queria.
Porque a felicidade não está em ter tudo a preceito,
Nem está, nunca, em viver sem mácula nem pecado
A felicidade, precisa do defeito
E de um sossego desassossegado.
Porque é na imperfeição o melhor momento
Que surge a rejeição da realidade
Que nasce o inconformismo
E se revolta o pensamento
E começa a busca eterna pela eternidade.
Tristeza da vitória
Tomo consciência dessa verdade,
Quando a minha alma persiste
E não há mais adversários ou mais rivalidade.
E a solidão no campo de batalha,
De guerrear sem ter inimigo,
É a pior das frustrações.
É sentir sem ter o perigo
É descarregar as vitoriosas ilusões
Numa luta inexistente
Numa guerra que há-de vir
Mas que pode não vir imediatamente.
É ter a força agora, presente
E temer perdê-la no futuro,
Um futuro onde a guerra está iminente
Mas para a qual eu sou prematuro.
Vencer antes da hora
É já antever a vitória que aí vem,
É ganhar aqui e agora
E lutar depois com a força que se tem.
Porque quem dá tudo o que pode
Não tem nada a temer,
Conquistará pelo seu pulso
A glória de vencer.
E se...
E a morte fosse esquecida
E se, sem dar conta, a mentira deixasse de existir
E se todos tivéssemos que rir.
E se, por acaso, todos os dias fosse Natal
E as zangas fossem interrompidas
E se cada um, mesmo diferente, fosse igual
E as diferenças fossem despidas.
E se, a vontade comandasse
E não houvesse mais guerra nem dor
E quem quisesse que lutasse
Com armas de ternura numa guerra de amor.
E se todos se unissem
Em torno de um mesmo ideal
Sem que necessaramente sentissem
A desconfiança ou o mal.
E se, de repente, sem ninguém contar,
Cristo descesse à Terra
E de braços abertos, nos dissesse emocionado (a chorar)
Estão perdoados, quem é humano erra.
E se, uma vez por dia
Todos se lembrassem do que são
Não por maldição mas por magia
Que tivessem a noção
De que desaparecerão um dia.
E se enchessem de coragem
Para fazer com que este mundo existisse
Para tornar real esta imagem
E para que Cristo cá ficasse e sorrise.
Quando basta
E a terra treme quando grito
Eu mando e tudo tem que parar
A minha cólera está no meu dito!
Liberto-me porque preciso de liberdade,
E vou embora e bato com a porta
Eu minto porque me cansei da verdade
E desprendo-me, porque me enjoa que vivas morta
Porque não reajes e não lutas?
Onde está a tua vida?
Perguntei... conclui que não mudas
Vais acabar por ser esquecida
Porque foges de tudo?
Porque não te levantas e insistes?!
Sabes (e concordas) que não mudo
Se me amas porque desistes?
Eu dei-te a mão e fiz de ti alguém melhor
E quando me olhaste viste amor
Agradeceste-me da forma pior
Com acções que provocam dor.
E estou a rir porque não sou de chorar
E porque vejo que estás triste
Gozo na tua cara para te pagar
Todas as vezes que me mentiste.
Mas não me incomoda porque quem perde és tu
Tens nas mãos um tesouro e deixas que desapareça
Tu não mereces a minha alma a nu
Vou guardá-la para alguém que a mereça.
Sustento de vida humana e animal
Parada, estudiosa, calma...
Exibicionista, presunçosa, fatal!
Multicolor, monocromática,
Estimulante ou aborrecida,
Tradicional ou automática,
Segura ou entristecida...
Fabulosa, televisiva, teatral...
Publicitária, incomodativa, fluorescente!
Todos a vemos por igual
Seja agradável ou incandescente!
Pública ou privada,
Tímida ou desinibida...
Competente, descarada!
Extravagante, ou inibida,
Cobarde, insulente,
Egoísta, mal criada!
Fria, morna ou quente,
Cheia de ódio ou apaixonada...
De noite, de dia,
Refinada ou de mau gosto.
Trivial, de magia,
Do ladrão ou do guarda do posto.
Sábia, ignorante!
Diabólica, divina...
Regular, inconstante,
Do menino ou da menina.
Normal, aberrate,
Melancólica ou contente
Distorcida ou tocante...
Saudável ou demente!
Adulta, infantil...
Parada ou intermitente,
Lúcida ou senil,
Educada ou inconveniente!
Do agricultor cansado,
Do filósofo inquieto,
Do poeta apaixonado...
Ou do bebé irrequieto!
Natural ou postiça,
Injusta ou dos que fazem jus,
Do circo ou da missa...
É de todos, é a luz!
Capitão
Avisto um navio rijo e forte
Que por entre o infinito do mar
Ruma em direcção à morte!
Mas ninguém a bordo teme
Porque ele está atento
Comanda tudo, da popa ao leme,
Eis o capitão, ele está presente.
E ele não desiste mas vai com calma
O próximo cais Tu (Deus) pediste,
É ele o seu Destino, a sua alma!
Controla tudo: velas, âncoras, canhões...
E não pára nunca de mandar,
Mas se houver perigo, temam, piratas e ladrões,
Porque ele vem aí e vai lutar!!!
Sua terra é o mar,Sua família os marinheiros
E pode lá a alma deixar,
Para os trazer salvos, vivos, inteiros.
Porque o capitão é esse ser maior,
Que guerreia e navega como que sem amor
Escondendo os seus medos, mostra o seu pior
Mas no mar, é o nosso Deus protector!
Número
Certeza, quantidade, precisão
É o mundo, a linguagem universal
Mas o mundo não acaba num milhão
Porque o número não perpetua só o mal
O zero o é o vazio, a solidão
O local de onde partimos
O nada, o medo, a isenção
De reduzir ao nulo o que sentimos
E tudo muda quando o 1 aparece
Medalha de ouro para o primeiro
O nada já é tudo, o nulo desaparece
E o número 1 é o criador pioneiro
O 2 é número par e tolerante
Número amoroso, par de amantes
Dualidade do critério pensante
Dois olhos que se olham de forma penetrante...
O 3 é o número divino,
Triplicidade conta de 3
Obtenham-no como quiserem
Foi a conta que Deus fez!
O 4 é o dobro do 2
É o prmeiro dos derrotados (não tem medalha)
Mas sempre é melhor do que aquele que vem depois
Que não se envergonha de ser canalha!
É o 5 o número mais descarado
Símbolo da relação sexual
Assume-se como personificação do pecado!
É ele o mais temperamental.
O 6 vem depois
Tem medo do anterior
Mas é Deus x 2
E vive a religião com amor
Temos depois o 7
Que vem para nos acalmar
Ele não desiste, mas não se compromete
Porque é o número do descansar
Figo
Um português de olhar profundo,
Lutou toda a sua vida
Até conseguir ser o melhor do mundo!
E quando num estádio entras
Com teu passo forte e decidido
Fazes tremer dos pés à cabeça
Até o adversário mais destemido...
Sempre que olhas para a bancada
Lembras-te de quem és,
A multidão aplaude-te emocionada,
Dominas o mundo com os pés!
E nas horas da verdade
Em que já nada precisas de provar,
Enches-te com a força da generosidade
E dás um golo a marcar!
Mas é com a nossa camisola
Que mais te lembramos na memória
Quando corres e avanças com a bola
Para marcares o golo da vitória...
A tua equipa precisa de ti
E tu enches-te com todo o brio
Corres e fintas, vais por ali...
A qualquer hora, faça calor ou frio!
E até nas bolas paradas,
Um gesto tão difícil de realizar,
Tu chutas com talento divino,
A bola passou a barreira, fizeste-a entrar!
No frente a frente com o guarda-redes,
Tua mente já está a festejar,
Olha-lo nos olhos e o medo lhe sentes,
Todos sabemos que não vais falhar!
São os teus rodopios vertiginosos,
As tuas fintas desconcertantes,
Os teus cruzamentos preciosos,
As tuas corridas entusiasmantes;
Que levantam estádios e exaltam almas,
Que projectam no céu gritos de viva voz,
Que nos fazem agradecer-te com palmas,
O espectáculo que dás em campo por nós!
Acompanhamos-te pela TV
Seguindo com os olhos o nº7 da camisa
E gritamos "golo!" quando o mundo vê
O Figo a agitar as redes de uma baliza.
Escolher
Que caminho seguir?
A dúvida é estreita,
Mas tenho que prosseguir!
E a escolha impõe-se,Sente-se no ar,
Tenho que escolher
A solução que vou encontrar!
Escolha cruel, indecisão malvada!
Ah! Tomara que não fosses real
P’ra não ter que decidir de forma inesperada
P’ra não ter que distinguir o bem e o mal.
E a escolha é uma obrigação,
Eu sou obrigado a escolher!
Porque mesmo que escolha a inacção
Escolhi já sem saber!
O País que é meu
Vão, com esse orgulho marginal!
Vão, deixem-me sozinho agora
Eu ficarei para renascer Portugal!
Sou descendente de Viriato
E sou primo de Camões,
Por isso chamem-me o que quiserem
Não troco a pátria por 10 tostões!
E fico e não vou sair,
Porque o meu país é meu!
Portugal, não te deixo cair
Devolvo-te o orgulho que é teu!
Somos o país que conquistámos,
Descobrimos o novo mundo,
À beira mar há tanto que ficámos,
Não vamos agora cair ao fundo!
E os que saem para não mais voltar
São traidores, não são Portugueses!
Porque os Portugueses nunca se dão sem lutar
E estes dão-se sem pensarem duas vezes!
Mas eu fico porque sou Português,
Nasci, vivo e morrerei em Portugal!
E di-lo-ei uma e outra vez,
Porque sou português
Para o bem e para o mal!
Alma de Poeta
Com passos firmes e decididos
Corta a meta
Sem saber a razão
Passos seguros, pensamentos imprecisos
Desgostos futuros, futura é a paixão
Não sente, não chora
Não faz o que eu faço!
Antes de sentir, cora
Mas sente o cansaço!
Cansaço de ser mero corpo que todos vêm
Preferia que o não vissem
Mas soubessem o que ele esconde,
Que olhassem e não sorrissem
Ou sorrissem por não saber onde
Se refugia tal tesouro,Riqueza interminável,
Mais reluzente que ouro,
Mais precioso e admirável…
Alma do que corta a meta
E chega em primeiro
Alma do derradeiro (Que importa!)
O que importa é ser poeta!
Padre
E tu lá estás pronto a ouvir!
As suas falhas, o seu mal-estar,
Os seus egoísmos, o seu mentir.
Teus castigos são cumpridos com prazer;
Um Pai Nosso, um Credo, uma Ave Maria;
Rezados com a alma aberta, sem nada temer,
Porque os transformas em momentos de magia.
Mas no fim saio de alma pura!
Sei que Ele me perdoou e estou aliviado!
Caminho agora de forma segura!
Agradeço aos dois por me terem lavado.
Sei que lá estarás de novo
Para perdoar todos os pecados meus…
Obrigado, digo com um povo,
Que te agradece por viveres em Deus!
Médico
Estás na guerra para nos salvares da dor.
Segues seguro, sempre em frente, lutador
Juraste dar tua vida por inteiro.
E quando enfrentas um vírus matreiro,
Ou até a morte, pálida e sem cor
Dizes: “Vou combater-vos com meu amor,
Minha arma secreta de justiceiro!”
De todos os males podemos padecer,
Vais sempre acudir para pelo menos tentar
Fazer com que não nos possam vencer,
Fazem com que voltemos a amar!
Tu és o herói do não temer,
És tu o herói sem disso teres ar.
Bombeiro
pátria tua é Portugal
És nosso, és do mundo, porque praticas o bem
Vais entre as chamas socorrer o matagal
Salvar casas, animais e gente também
Sabes que vencerás porque bem te preparaste
Aos santos rezaste a Deus pediste protecção
Para impedir que só se apague com lágrimas
Este fogo malvado que semeia destruição
Vais sempre em frente sem olhar para trás
Horas infinitas sem descansar e adormecer
Mas continuas a combater essas labaredas más
Enquanto souberes que há algo a arder
Homem de brio e coragem interminável
Partes para o fogo, para o calor infernal
Podes sentir medo, mas porque és prestável
Sabes esquecê-los para apagar Portugal.
Fogo Cruel
É uma dor que sinto no coração
Muitas famílias, um povo a sofrer
Perdas que não cabem na Razão
O meu país arde e só ficam cinzas
Daquilo que noutra época já foi vida
Matas e florestas agora esquecidas
Gentes sem roupa, casa nem comida
São loucos que se põem ao serviço do mal
Provocando a destruição por mero praze
rQueimam tudo, do Humano ao vegetal
Tiram-lhes a todos o direito de viver.
E saber que nesta altura alguém chora
Faz-me sentir vergonha de ser português
As minhas mãos tapam a face que cora
Porque não há resposta a nenhum dos “porquês?”.
Sobra agora espaço para as lágrimas
De quem viu toda uma vida condenada
À violência das chamas, à perda infinita
Resta a tristeza na alma entranhada
Tal como o fumo que não deixa ver o Sol,
A hora é de luto escuro, preto carregado,
Mas temos de nos juntar para criar força tal,
Que permita vencer este fogo malvado!
Teatro
O mais puro dos artistas é o actor
Que surge como barco sem vela nem mastro
À procura de orientador
O nervosismo de em cena entrar fá-los chorar
O risco de falharem faz-nos sorrir
A verdade da actuação faz-nos espantar
E no fim todos vamos aplaudir.
O teatro é um verdadeiro espectáculo
No teatro não pode haver uma perda
E agora antes de em cena entrar…
Muita, muita “m****”
O Poeta
Em público é tímido e educado
Mas no seu íntimo resplandece
Quando pelo dedo da poesia é tocado
De mão dada com a harmonia
Numa noite estrelada há-de escreverUma linda e liberta poesia
Que a toda a gente vai comover
Alegria ou tristeza é o que há para escolher
Cada um escolhe o que melhor lhe sorrir
Mas só o poeta sabe ser
O que mais lhe convir!
Só alguns o conhecem
Muito querem-no conhecer
E os pouco que o merecem
Demoram tempo a perceber
Que afinal o homem com que convivem
Não é doido nem louco
É um sonhador genial
Que escreve muito em pouco!
Seguir
Segue ao Deus-dará abandonado
Segue de ar impuro,
Segue de olhar determinado.
Não pára e segue
E continua e não está a pensar
Apressado ele segue
Segue e vem por aí sem parar.
E vem furioso, é furacão!
E segue pelo caminho maldito.
Vem por aí cheio de paixão.
Ele segue, rumo ao infinito!
Dizem-lhe que não siga,
E ele não os ouve e segue!
Dizem-lhe que não prossiga,
Mas ele manda-os calar e segue!
Ele sabe o seu caminho:
Seguir sem olhar para trás nem hesitar
Ele segue acompanhado mas sozinho,
Por saber que irá triunfar…
Pensa por uma vez em parar,
Seu corpo é já só cansaço.
Mas conclui que o melhor é não pensar!
E segue e acelera o passo!
Só segue porque projectou lá chegar
E só vai porque sabe que consegue,
Solitário, continua a caminhar,
Avança, progride, ele segue!